Introdução
A tricomonose é uma doença venérea de bovinos causada por um protozoário flagelado denominado Tritrichomonas foetus (T.foetus), cujo habitat é o trato genital de bovinos sendo transmitido do macho para a fêmea através da monta ou pelo uso de sêmen contaminado. (Fig 1)
É uma doença de caráter venéreo, tendo como principais manifestações clínicas a repetição de cios a intervalos irregulares e o aborto, com maior freqüência até os cinco meses de gestação (Skirrow & Bondurant,1988).
Epidemiologia
O parasito é transmitido do touro infectado para a fêmea susceptível durante a cópula. A transmissão mecânica durante a inseminação bem como a utilização de sêmen contaminado é rara, porém possível.O touro é o portador assintomático, não sofrendo a infecção, adquirindo naturalmente imunidade contra a mesma. Os touros mais velhos tem maior risco de adquirirem a doença e manterem-se portadores permanentes uma vez que com a idade aumenta a profundidade das criptas prepuciais, local na mucosa onde o parasito tem o seu nicho ecológico.
Nas fêmeas, a infecção é auto-limitante, com duração média de 90-95 dias, mas durante esse período podem continuar transmitindo o parasito aos touros pelos quais forem cobertas.
As vacas infectadas albergam o parasito durante alguns ciclos estrais ou após a interrupção da gestação. O T. foetus, então, é eliminado simultâneamente do útero, cérvix e vagina, como resultado de uma resposta imune específica induzida pela infecção. Entretanto, essa imunidade não é permanente e as fêmeas estão sujeitas a reinfecções em coitos subsequentes
Patogenia
Nos machos a colonização ocorre na cavidade prepucial e raramente no canal uretral, sendo que logo após a infecção há corrimento prepucial, pequenos nódulos na membrana prepucial e peniana.
Nas fêmeas a colonização ocorre em praticamente todo epitélio reprodutivo (vagina, cérvix, útero e oviduto), causa uma vaginite moderada com o aparecimento, eventualmente, de secreção muco-purulenta (piometra), endrometite, morte embrionária, abortamento precoce e repetição do cio.
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Feto bovino abortado |
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Vaginite por tricomoníase |
Genital: monta natural, inseminação artificial;
Transmissão não venérea: vagina artificial, sêmen infectado, palpação vaginal, instrumentos obstétricos.
Sinais Clínicos
Nos machos a sintomatologia é branda no inicio da infecção, e estes são portadores assintomáticos onde nem a fertilidade nem a líbido são afetadas.
Nas fêmeas a infecção causa, além de repetições irregulares de cio com intervalos aumentados, vaginite, cervicite, endometrite, piometra, morte embrionária ou fetal, feto macerado e aborto (Rae, 1988).
Obs: quantidade de parasitas varia de acordo com a fase do ciclo estral, sendo maior no estro.
Diagnóstico
Clínico: Histórico, sinais e sintomas
Laboratorial:
- Direto: consiste no exame microscópico em lâmina, porém mostra-se pouco sensível;cultura em meio; PC (direto ou confirmatório de cultura);
- Indireto: Imunofluorescência Indireta, PCR.
Profilaxia e controle
Vários métodos podem ser utilizados para o controle e profilaxia da tricomonose em rebanhos,sendo todos baseados na segregação de touros e fêmeas positivos.
1. Descarte periódico de touros velhos( acima de 5-6anos) e introdução de touros jovens testados.
2. Evitar touros “arrendados”ou utilizados em parceria.
3. Efetuar teste (cultura) dos touros duas semanas antes da estação de monta e após o seu término.
4. Repouso sexual das fêmeas por, no mínimo, três ciclos consecutivos.
5. .Descarte seletivo: Devem ser descartados todos os touros positivos e as fêmeas que falharem na concepção, abortarem ou apresentarem piometra, assim como as que forem comprovadamente positivas.
6. Não adquirir touros de fazendas com problema de Tricomonose, ainda que touros virgens. Não adquirir também fêmeas prenhas, que falharam ou abortaram. Só adquirir novilhas.
7. .Vacinação: mais recentemente tem sido desenvolvidas vacinas de eficiência comprovada em estudos isolados não tendo ainda sido utilizada largamente com sucesso para que possa ser recomendada em detrimento dos métodos tradicionais de controle.
8. .Evitar utilização de pastagens comuns. Nunca levar touros para esses locais.
9. . Introduzir manejo exclusivo com Inseminação Artificial (quando viável, em gado leiteiro, por ex.) significando não usar em hipótese nenhuma o touro de repasse.
10. . Manutenção de grupos de animais infectados e não infectados: os touros infectados são levados a cobrir somente fêmeas infectadas sendo as fêmeas susceptíveis, novilhas ou fêmeas que levaram a gestação a termo seriam cobertas por touros virgens ou comprovadamente negativos (três testes negativos consecutivos). Isto, entretanto, pode surtir resultado somente em rebanhos menores, sendo quase inviável em grandes rebanhos de corte.
Qualquer animal que for introduzido no rebanho deve provir de rebanhos sem histórico de tricomonose e ainda assim possuírem três resultados negativos para o parasito. Adicionalmente, antes da estação de monta deve-se examinar os touros, para o descarte dos que se apresentarem positivos.
Tratamento
O tratamento se justifica principalmente quando são utilizados touros de elevado valor zootécnico, mas não é indicado para grande número de animais ou para uso indiscriminado em um rebanho .
- dimetridazole por via oral é altamente eficaz, entretanto são necessários 5 dias de tratamento ao um custo de aproximadamente US$ 125 por animal, o que é considerado elevado para animais de rebanho (Skirrow et al., 1985).
- Os autores utilizaram uma associação de penicilina procaína (7000 UI/Kg de peso corporal) por via intramuscular com ipronidazole, em dose única (30 g por animal, intramuscular) ou dividida em três doses, aplicadas por 3 dias consecutivos (30 g, 15g e 15 g, respectivamente). A eficiência do tratamento do tratamento foi de 92,8% para o grupo tratado em dose única, uma vez, e 100% para o grupo tratado três vezes. Os autores recomendam que touros que não respondam ao tratamento sejam descartados
- Hipólito et al. ( 1965) recomendaram a utilização de tripaflavina em solução a 1%, aquecida a 40 , com massagens vigorosas do pênis desembainhado e na mucosa prepucial por dez minutos. Em seguida era efetuada aplicação tópica de tripaflavina em veículo oleoso a 0,5% e uma aplicação de 20 ml de tripaflavina a 1% no canal da uretra.
- O tratamento também testado por Martins et al. (1997), utilizando-se a aplicação tópica de acriflavina a 1,5%, em veículo de creme neutro, demonstrou ser eficiente e prático, uma vez que é necessária somente uma aplicação do produto , diminuindo, portanto a necessidade de maior manuseio dos touros. Do ponto de vista econômico o tratamento é bastante viável uma vez que a aplicação tópica de acriflavina tem um custo em torno de R$ 7 por animal, quando utilizada uma aplicação, somando-se o custo do anestésico.
PELLEGRIN, A ; Atualização sobre Tricomonose genital bovinaCorumbá: Embrapa Pantanal, 2003.
18 p.; 21 cm (Documentos / Embrapa Pantanal, ISSN 1517-1973; 54).
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